MC, poeta, escritor, pai e militante social. Essas são algumas das faces de Dugueto Shabazz, artista com quinze anos de carreira, dentre suas diversas composições está o clássico “Vamos Pra Palmares”, poesia de um rap que é presença garantida nos saraus das periferias de São Paulo.
Conversei um pouco com Dugueto sobre o seu mais novo lançamento, o EP “Eu tava aqui o tempo todo, você que não me viu”.
Ouça aqui o disco e confira abaixo a entrevista:
Pra começar: Quem é o Dugueto? De onde veio? Quando o Ridson se tornou Dugueto?
Dugueto é apenas um rapaz latino americano apoiado só pelos mais loucos e loucas (risos). Uma criança com o sonho de lançar um disco, um morador do jardim Jaqueline, uma pessoa de origem simples com ambições enormes.
Rimo desde os dez de idade. Aí naquela época os rappers brasileiros que eu curtia tinham nomes em inglês, eu achava que tinha que ter um também. Então, peguei um dicionário bilíngue e tentei encaixar um nome composto em inglês, até que achei um mais ou menos bom e simples e usei durante um período, mas até eu percebi com o tempo que era bem ridículo o nome que eu havia escolhido no idioma estrangeiro. E aí voltou a necessidade de ter um nome próprio, que fosse forte, que remetesse a origem e tal, que levasse a conotação da quebrada mesmo. Aí surgiu Dugueto com essa grafia aí que um monte de gente erra e eu já to até acostumado(risos). Talvez eu mude um dia, quem sabe em breve…simplifique sei lá..
Shabazz é uma referência direta a El Hajj Malik El Shabazz, ou como preferirem, Malcolm X.
Pra além de MC, você também é poeta e escritor. Quando começou a escrever? Qual foi a sua primeira rima/texto?
Eu já não lembro mais do meu primeiro rap (risos). Seria legal lembrar porque isso remontaria mais de vinte anos de história de vida e me levaria de volta a minha infância. Mas eu tinha duas: uma que falava de racismo e outra que falava de drogas e tal, tipo na linha de “SL Um Jovem Dependente” do MRN. Eram bem pueris e totalmente inspiradas nos meus ídolos daquela época.
Tô ligado que você também é um grande impulsionador da literatura periférica e dos saraus da Zona Sul. Fala pra gente qual a importância desse movimento na sua carreira.
Os Saraus foram muitíssimo importantes na minha formação artística e seguem sendo vitais pra cultura periférica. Por causa da poesia eu fui pro rap, por causa do rap eu fui pros saraus, por causa dos saraus eu fui pro teatro; ou seja, abriram-se diversas oportunidades e possibilidades pra mim á partir da arte de moldar a palavra e extrair beleza do feio, trazer a dúvida pra perturbar certezas, questionar padrões, ou simplesmente expressar sentimentos humanos tão cotidianos, amor, raiva, frustração, desejos. Essa coisa toda que é a poesia. Considero-me um artista das palavras.
Sobre esse EP, esse é o seu primeiro trabalho solo. Qual foi o processo de construção?
É o primeiro trabalho oficial! Já que eu gravei com muita gente e fiz uma mixtape não oficial com o o deejay RM e muitas outras coisas ao longo dessa trajetória, mas sempre com a ideia de fazer um trabalho autoral, que dissesse algo sobre mim, minha visão, aspirações, num processo de criação que trouxesse parceiros que traduzissem meu eu artístico e viessem vibrando na mesma vibe que o Dugueto. Então nessa oportunidade, primei pela excelência. Acho que pra alguém na minha posição, com a bagagem e experiência que eu trago, nada mais justo que apresentar pro público do rap uma música de alta qualidade. E Considero, sem dúvidas que essa meta foi atingida com êxito. Renato Parmi, Tico Pro, Lucas Beatmaker, Caio Cutrim, Dj Pepeu e Gegê. Com essa galera envolvida não teria como errar (risos)
Quem assina as produções? De onde veio a inspiração pras instrumentais?
Deixei os produtores e beatmakers livres pra criarem a brisa deles em cima das minhas viagens e inspirações e isso deu certo. Cada um trouxe sua contribuição máxima e traduziu pra sua área, sua própria praia, o que cada um entende do Dugueto Shabazz. Juntei uma galera com muita sensibilidade musical e que manjam pra caralho de rap. Deu certo! Sou muito feliz por isso! Levei um ano pra conceber, produzir e concluir o processo todo envolvendo letra, beat, mix e master, capa, arte, registros. Contei com Vários parceiros que me deram um cinturão de apoio também: minha sócia-parceira Elis Teixeira da Shabazz Empire, Marcus Rosa, Alex Barcellos da Agência Solano, o próprio Parmi do Greenhouse. A fotografia da capa ficou a cargo do formidável Renato Nascimento e arte do meu broder Titon.
Eu não paro de escrever e já tinha muita letra, gravei muita coisa nesses últimos dois anos em vários estúdios e o difícil pra mim depois é cortar alguns sons e compilá-los sob um conceito! Uma ideia que seja a nave mãe da parada. Nesse caso, o nome bem como a faixa título surgiram por último e eu acabei gravando muito mais do lancei. Já tenho material inédito pro próximo EP inclusive.
As músicas vieram com uma estética bastante moderna. Em quem você tem se inspirado pra compor?
Sou ligado numa molecada nova da minha quebrada que me mostram os plugs, traps, grimes, enfim, me atualizo sempre com eles e sou antenado. Como sou um mestre de cerimônia e estou rapper no momento (risos) pra mim é tranquilo transitar na linha do tempo das batidas do hip hop. Rimo em cima de um breakbeat tão bem quanto rimaria num Travis Scott type beat ou num partido-alto, quem sabe (risos).
Esse é um trampo onde as letras mesclam bastante o politizado dos anos 90 com o estilo lírico mais livre dos nossos tempos. A intenção era essa mesmo? Fale mais sobre como dialogar sobre assuntos importantes com as novas gerações.
Não posso perder a minha essência identitária, mas ao mesmo tempo não devo me fixar num determinado tempo, virar um saudosista, ou um ortodoxo. Minha poesia sempre evoluiu. Eu escrevo desde os nove anos de idade. E as batidas estão sempre mudando também. Pelo menos de cinco em cinco anos. No Crunk e no Dirty South eu e o Mc Gaspar, por exemplo estivemos internados no Home Studio dele e em estúdios de parceiros desdobrando o ritmo, saiu muita cousa boa dali também. Eu não sou rapper. Rappers as vezes tem dificuldades com certas batidas. Eu não. Sou um MC. Em termos de letras, eu to num nível poético que é um lugar até um pouco solitário no RapBR, apesar de muita gente ainda estar para descobrir isso. Eu escrevo no nível dos melhores e os melhores escrevem no meu nível. Somos raros, estamos fora da curva. Acho que com esse trabalho eu sofistiquei o meu verso deslocando as minhas criações pra perspectiva de um sujeito lírico. Mais um patamar que com muito trabalho eu conquistei.
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