A Nova Forma de Catequização Cristã Contra o Povo Negro

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    Foto: Roger Cipó.
    Foto: Roger Cipó.

    O processo escravocrata foi fundamentando na violência e intolerância, milhões de negros e negras foram forçados (as) a deixarem suas heranças culturais e ancestralidades de lado para cultuar um Deus jamais conhecido e uma cultura sem significados ou laços, mas tivemos aqueles que resistiram e pagaram caro por isso, eles merecem muito mais que nossa gratidão, mas também não podemos culpar aqueles que infelizmente não tiveram a mesma oportunidade de cultuar o que era seu de berço, ao analisar essas questões precisamos tirar a rédea, deixar de analisar pela forma umbiguista, e entender o contexto em que esses povos viveram e como esse processo se deu. Há mais de 400 anos os povos negros e suas culturas vivem da resistência. Desde a primeira chegada dos jesuítas (primeira forma de catequização) no continente africano a ordem sempre foi resistir para (re) existir. Durante séculos a cultura eurocêntrica tenta dizimar tudo que é ligado à população negra.

    Uma das heranças do processo escravocrata é o racismo e a demonização das culturas negras, em pleno século XXI estamos vivenciando ondas dessa herança maldita. No Rio de Janeiro pais e mães de orixás estão sendo obrigados (as) a destruírem com suas próprias mãos seus barracões de cultos e adoração aos reis e rainhas africanos (as), traficantes ligados às igrejas neopentecostais ameaçam de forma violenta os representantes dos cultos afros. Um barracão (como é chamado o espaço onde acontece o candomblé) ele também não foge da estrutura racista, não é fácil a sua construção e manutenção, às vezes famílias de candomblé demoram anos e até gerações para deixarem seu espaço sagrado como desejado, no Brasil tudo que é ligado ao negro é mais difícil. O racismo inviabiliza e fecha as portas das oportunidades e da liberdade

    Chamo esses ataques como uma nova forma de catequização cristã pela seguinte lógica: ou vocês seguem cristo ou destruiremos o sagrado de vocês e impediremos os cultos. De forma impositiva a igreja aliada a traficantes reinventa sua forma de catequização, mais uma vez colocam as populações negras e seus cultos sobre os ataques da intolerância. Essas igrejas seguem um padrão branco e europeu onde veem o negro como inferior e sem alma e, durante séculos fica tentando o arrebatamento e a dizimação dessa população, ligada ao conservadorismo as igrejas não contribuem para uma sociedade plural, apenas fomentam a alienação e a intolerância em todos os campos. Não é atoa que essas igrejas são ligadas a elite, elas sabem que estão estruturadas e contribuem para a lógica racista e se fortalecem a cada dia que passa para que seu plano de catequização chegue ao triunfo, exemplo disso é a bancada evangélica que nada faz pela população, inclusive pelos seus fiéis que também são pobres e negros em sua maioria, mas que infelizmente estão embranquecidos.  A igreja e o conservadorismo precisam entender que nossa sociedade é plural e não aceitaremos ser padronizados, iremos resistir contra esses ataques racistas e intolerantes. Tenho plena certeza que mais uma vez a resistência contra essa violência será grandiosa. Que ocupemos todos os espaços, eles também são nossos.

    Que Exu nos guie para o melhor caminho contra a intolerância.

    Que Ogum fortaleça nossas armaduras contra essa batalha.

    Motumbá.

     

    Michael Dias de Jesus- Professor da Rede Pública de São Paulo e Pesquisador das relações étnico-raciais.

    Email: [email protected].

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