Dezenas de entidades do movimento negro paulista se uniram entorno da luta contra as reformas trabalhistas e da previdência.
Nós, da Agenda Preta, nos somamos ao movimento por acreditar que esses são ataques a toda a classe trabalhadora e, como sempre, atingirá com maior força a população negra, tendo em vista sua situação de pauperização.
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Veja a carta abaixo:
Hoje, 28 de Abril, nós negras e negros trabalhadores estamos em Greve, nas ruas lutando contra as reformas racistas e genocidas do governo Temer: Reforma Trabalhista, da Previdência e da Terceirização. Nos somamos às manifestações convocadas pelas Frentes de movimentos sociais, partidos e sindicatos.
A população negra, alvo histórico da desigualdade e da violência, de uma sociedade estruturada pelo racismo, pelo patriarcado, pela LGBTfobia e todas as formas de preconceito e discriminação que estamos submetidas(os), se coloca mais uma vez nas ruas, contra a perda dos poucos direitos conquistados com muita luta pelos trabalhadores negros brasileiros.
Sabemos que até mesmo os direitos até hoje conquistados – civis, sociais, trabalhistas – sempre foram sistematicamente cerceados ao nosso povo, e o genocídio – direto e simbólico – sempre foi a principal característica da relação entre nós e o Estado. No entanto, em momentos de crise do sistema do capital, como o que flagrantemente vivemos agora, as forças do “deus mercado” dos grandes empresários e especuladores mundiais apertam o cerco e, por via de governos covardes e entreguistas, como o de Temer, buscam retirar os poucos direitos conquistados pelos(as) trabalhadores(as), custe o golpe que custar. A ganância de manter e aumentar suas margens de lucro não tem fim.
A população preta e periférica é reprimida, o Estado investe pesadamente em seu aparato militar, na “guerra às drogas” que está efetivada como política de criminalização da juventude negra, e em regulamentações punitivas e restritivas de liberdade. O povo, cada vez mais pobre, é o inimigo. E a população negra, segmento majoritário da classe trabalhadora é, mais uma vez, o descarte prioritário.
Nessa esteira, temos um definitivo exemplo das armadilhas organizadas pelo Estado para sacrificar cotidianamente aqueles que praticam o mais intolerável crime de uma sociedade racista: Nascer negro. Rafael Braga, condenado a mais de 11 anos de prisão, em um processo penal que ignora frontalmente a legalidade, com centenas de indícios de fraudes, e baseado apenas em depoimentos da Polícia Militar, não nos deixa outra opção se não a certeza de que o cerco ao povo negro segue em curso no Brasil. É também por Rafael Braga que estaremos em marcha.
O fim do direito a aposentadoria, o desmonte dos direitos trabalhistas, a terceirização irrestrita do trabalho, o congelamento de investimentos sociais por 20 anos, o desmonte do SUS e o aumento da repressão e da violência policial têm um caráter explicitamente racista e genocida. Políticas de ações afirmativas comprovadamente eficazes para um caminho de equilíbrio de oportunidades entre negras(os) e a população periférica têm sido destruídas. É o que vemos com o fim da ampliação de vagas em universidades federais, a gradual descaracterização do Enem e o esvaziamento da importância da lei 10.639; assim, dá-se a reprodução, em nível federal, do que faz o governo do Estado de SP através de USP e UNICAMP, que se opõem sistematicamente às políticas de cotas raciais em cursos de graduação e pós-graduação. Sim, com as reformas de Temer, os efeitos do racismo e o genocídio negro se aprofundaram ainda mais.
Se a proposta da “Reforma” da Previdência vai afetar milhões de trabalhadoras e trabalhadores, o que dizer das mulheres negras, das travestis e transexuais, maioria nos setores precarizados e na prestação de serviços, como limpeza, cozinha, telemarketing, reciclagem e outros? O que dizer das empregadas domésticas que só depois de muita luta conquistaram seu status de trabalhadoras e que nunca vão conseguir atingir a tão sonhada aposentadoria e o direito ao merecido descanso após anos e anos trabalhando em casas de família, sujeitas a todo tipo de desgaste físico e humilhações? A PEC das Domésticas que tanto comemoramos será invalidada com essa “Reforma” da Previdência. Nenhuma mulher conseguirá comprovar 25 anos de contribuição.
Nós, povo negro, temos lado, e ocuparemos nosso lugar nesta luta, apontando que em um país – de maioria negra – cabalmente racista, o nosso lugar é também na direção de todos os processos de luta, seja contra a retirada de direitos, por mais direitos ou pela efetiva emancipação das trabalhadoras e trabalhadores.
Seguimos firmes sob a proteção das nossas e dos nossos ancestrais!
Nossos passos vêm de longe.
Povo negro unido é povo negro forte!
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