Mulheres que morreram lutando são homenageadas na Flip

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Ação da Ocupa Beauvoir em parceria com o podcast Rabiscos ocorre de quarta a domingo em Paraty, RJ

Silenciar um movimento popular atirando de um avião ao mar, ainda viva, a mulher que o lidera, poderia muito bem ser o enredo principal de um esperado lançamento literário na Feira Literária de Paraty, a Flip deste ano. Mas não é. É a história real de Esther Ballestrino, fundadora da Associação Mães da Praça de Maio, na Argentina. E é somente uma das histórias reais de mulheres ativistas pelos direitos humanos, que foram covardemente assassinadas por governos e sistemas autoritários. Histórias que serão homenageadas pelo movimento feminista Ocupa Beauvoir e pela Flipei – Festa Literárias Pirata da Editoras Independentes, durante a festa neste ano.

Algumas destas ativistas já povoam o imaginário dos brasileiros, como Rosa de Luxemburgo, Marielle Franco, Marsha Johnson e Dandara. Outras que ainda beiram o anonimato aqui nos trópicos, mas que foram importantíssimas nas transformações de suas comunidades, como a ambientalista hondurenha Berta Cáceres, a parteira de origem Ixil Maia, na Guatemala, Juana Santiago, a pescadora brasileira, Nilce Magalhães, líder do Movimento dos atingidos por Barragens, além da brasileira Luana Barbosa e da jornalista anarco-feminista japonesa, Itô Noé.

Segundo a idealizadora do movimento Ocupa Beauvoir, Leila Vilhena“encontrar informações sobre estas mulheres não foi nada fácil, infelizmente. Portanto, temos um imenso orgulho de podermos fazer esta ação e trazer a um lugar de destaque, a existência destas ativistas”. Ela destaca ainda que a maioria dos assassinatos não teve a investigação concluída e, consequentemente, não tiveram seus autores punidos. “O mais comum nos noticiários sobre a morte dessas ativistas são afirmações como ‘os suspeitos não foram encontrados’. Isso demonstra claramente a reincidência da impunidade dos assassinos de ativistas”, destaca Leila.

A iniciativa tem a direção de arte de Leila Vilhena e Júlia Vasconcelos, que também são responsáveis pela curadoria, juntamente com Gabriela Acerbi e a Flávia Lago. As ilustrações foram criadas por Paloma Barbosa, Gabi Sakata, Raquel Thomé, Raissa Jalkh, Angélica Menchini, Alyne Dellacqua, Mariane Brusetti, Bruna Rison, Clara Moreira e Thaty Mendonça. A composição gráfica ficou por conta da designer Leeh Ortiz.

Para essa produção a Ocupa Beauvoir contou com uma parceria da plataforma Margens e do podcastRabiscos, da jornalista Jéssica Balbino. Dez escritoras contemporâneas foram convidadas a escreverem uma carta a cada uma dessas mulheres homenageadas, sendo elas: Keyty Medeiros; Estela Rocha; Bell Puã; Cristina Judar; Giovana Madalosso; Letícia Brito; Calí Boreaz; Preta Rara; Luiza Romão; Sara Donato. As cartas foram lidas pelas próprias escritoras e gravadas em formato de podcast, juntamente com uma entrevista exclusiva. “Escrever para o passado é uma simbologia, que nos leva a refletir justamente em como estamos lutando aqui, no presente”, destacou a jornalista. Com o uso da tecnologia de realidade aumentada QR Code, toda a série de lambe-lambes servirá como porta de entrada para estes conteúdos, que serão espalhados pelos muros da cidade.

“Esther, eu vejo seu corpo chegando na praia. É 20 de dezembro de 1977, um dia qualquer no balneário argentino de Santa Teresita. Um dia qualquer se não fosse cena do corpo surgindo. Braços, pernas e cabelos dançando inertes na marola. Você não vem sozinha. Está junta de outras companheiras. Vão chegando como um triste corpo de baile. Rodopiando estancando na areia. Veranistas se aproximam. Imagino que se façam a mesma pergunta. Mas pouco tem coragem de falar em voz alta. Você sabe, é tempo de silêncios por esses mares do sul. Em silencio os militares recolhem o seu corpo”.

Trecho da carta da escritora Giovana Madalosso à Esther Ballestrino (fundadora da Associação Mães da Praça de Março).

Durante toda a programação no Barco Pirata a Ocupa Beauvoir fará a distribuição gratuita da série artística de lambe-lambes interativos em homenagem a dez mulheres ativistas que foram brutalmente assassinadas por causa de suas lutas. E no sábado, dia 13 de julho, as idealizadoras fazem uma roda de conversa sobre o processo de construção desta ação, juntamente com algumas das escritoras convidadas, que contarão sobre esse processo de conhecer e escrever para estas mulheres.

Sobre a Ocupa Beauvoir

A Ocupa Beauvoir é um movimento de apoio e fomento ao ativismo contra a desigualdade de gênero no mercado literário, dedicado a estimular o uso de arte urbana como manifesto e também como meio de acesso a leitura de escritoras mulheres.  Foi criado em 2018, ano em que foi selecionado pelo programa Laboratório de Inovação Cidadã, promovido pela Secretaria Íbero-americana, em Rosário, Argentina. Para 2019 o movimento feminista pretende ainda promover intervenções urbanas inspiradas em escritas mineiras e mulheres da ciência e da tecnologia. Acompanhem pelo @beauvoirocupa.

Serviço

Local: Barco Pirata da Flipei – Ancorado no cais de Paraty

Data: Sábado – 13/07

Horário: 18:30

Informações: http://margens.com.br/ocupa-beauvoir



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