Agenda Preta Indica #8 Raps Tristes

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RAPSTRISTES (7)

Hoje em dia é muito natural numa conversa que alguém esteja lamentando de algo ou se negando fazer alguma coisa, ouvir a seguinte frase ‘não venha com história triste!’, porém a trajetória do povo preto para o Brasil e sua estadia nessa terra, foi e é extremamente cruel, violenta, desumana e triste!
Quando os pretos começaram a se manifestar através da música em terras tupiniquins, criando o samba, a tristeza foi um assunto predominante em suas canções, seja a tristeza por um fim de um amor, o peso na alma de perder uma pessoa querida pela violência, a dor de morar em lugar pobre e o raros momentos de alegria na vitória de uma escola de samba. A mágoa, a pobreza, a falta de perspectiva e o alcoolismo, predominava nos versos dos sambistas, retratando assim uma época amarga para o povo preto.
Décadas depois, as feridas do racismo ainda não cicatrizaram. O povo negro ainda vive as mazelas da miséria, da violência e dos vicios! E o rap nacional virou um porta voz dessas agonias! Tendo isso em vista, a Agenda Preta listou alguns raps tristes que seguem abaixo. Boa viagem.

Face da Morte – A Vingança

https://www.youtube.com/watch?v=dRS53bJl_pg

Uma empregada doméstica, um filho de patrão folgado, um estupro, uma criança, vários traumas e um assassinato. Misture bem os ingredientes adicionando um sample de “No, woman, no cry”. Em sete minutos estará pronto um som que marcou gerações no rap nacional.

Realidade Cruel – Depoimento de um viciado

https://www.youtube.com/watch?v=oOWjva9uCsg

Gangsta rap de verdade (não esses da pompéia). Nesse clássico som, lançado em 2000, o grupo relata a história de um cara que se afundou no crack. O som é feito em cima de um sample de “Nem um dia” do Djavan e conta com punchlines do tipo “Não sou Rafal, nem Vera Ficher, a minha história, parceiro, é mais triste. Nunca engoli escova de cabelo, mas já matei pelo crack e por dinheiro”.

Emicida – Ooorra

“Como cê vai sonhar com o pódio? Se amor é luxo e com a grana que nóiz tem só da pra ter ódio”. Pra mim esse é um dos melhores sons do Emicida. Um relato autobiográfico que é meio desabafo também. Nas linhas de Ooorra, o MC rima sobre vários conflitos e traumas que alguém de periferia tem e das dificuldades de subir quando tudo te empurra pra baixo, destaque pro verso “Não sei se da tristeza ou ódio, não conseguir lembrar de você sóbrio”, onde o mesmo, provavelmente, fala sobre o pai.

Facção Central – Castelo Triste

Talvez esse seja um dos raps mais tristes que já escutei. MANO, O EDUARDO É FODA. Sério. Como o cara consegue narrar o sofrimento e morte do irmão num rap? Na track, Eduardo fala de seu irmão, que era deficiente físico e, de quebra, fala da morte da mãe. CARALHO!!! Além do sofrimento do irmão, o MC faz paralelos com o preconceito sofrido pelas pessoas com deficiencia, sobre a falta de infraestrutura por parte do Estado e sobre várias fitas. Até me arrepia ouvir isso. O sample é do Barry White.

GOG – Quando o pai se vai

GOG é um gênio! Sou fã desde criança (e olha que já faz um tempo que não sou criança). Nesse som ele fala sobre o papel da paternidade, tão rara nas periferias. Faz um paralelo entre um pai que não resistiu e se entregou a cachaça e outras mazelas que assolam nosso povo e outro pai que, de forma heróica (que na verdade deveria ser a obrigação, mas isso é outro assunto), criou os filhos sozinho depois que a mãe se foi. O sample é de “Como”, do Paulo Diniz.

Inquérito – Dia dos pais

https://www.youtube.com/watch?v=G4S6KoV9CaA

Mais um som falando do pai. Se for buscar tem mais vários, alguém devia estudar algo como o papel do pai no rap nacional, mas deixa isso pra lá, o assunto aqui é rap.
Renan é um MC fora do comum, sou fã de Inquerito desde o primeiro disco. Nessa faixa ele fala de um filho lamentando a morte de um pai que era bandido e morreu na mão da polícia. “Já deu minha hora, pai. Deixa eu ir. Cê nunca escutou ninguem, não é agora que vai me ouvir. Quem sabe um dia nóiz se tromba, nem que seja sonhando, preu te dar o abraço que ficou faltando” é o verso que encerra a track. Pesado pra caralho.

Sarksmo e Choco – Música para Suícidas

“Qual a melhor forma de se cometer um suicídio?” é a frase que inicia esse som intrigante. Foda, né? Não sou o maior conhecedor de rap do mundo, mas não conheço nem um outro rap que trata de suicídio, ainda mais dessa forma. Numa instrumental torta os MCs trocam versos sobre os motivos pra se matar, as formas e terminam com uma questão “Quem se suicída, será que encontra uma resposta pra uma vida amargurada? Ou encontra a saída pra uma falta de respostas? Será o mais alto grau de coragem ou mera fraqueza?” E ai?

Dexter – Conflitos

Os problemas cotidianos que a vida trás, junto com as diferenças sociais que vivemos, nos torna sucetiveis à problemas emocionais, como ansiedade, depressão e etc.
Agora imagina uma pessoa que se vê privada da sua liberdade. Na cadeia, um lugar desumanizador em sua essência! Um local em que os problemas mÍnimos tem consequências máximas. Onde os direitos básicos são luxos e custam muito caro. Um ambiente em que se respira opressão e tensão. Por vezes somos refém de nossas emoções e nos sentimos presos ao nosso estado psicológico. Por pense em você preso ao seu estado emocional abalado e preso na cadeia do Estado! Muita treta, né?
E é nessa atmofera que Dexter narra seus conflitos internos. Saudade, decepção, depressão e agonia, fazem parte do cenário que o rapper canta.

Expressão Ativa – Na dor de uma lágrima

Esse é o momento que o poeta mais eloquente fica sem palavras. Que a pessoa mais alegre sangra por dentro e chora por fora. O momento em que os desintendimentos, as discussões, as comemorações e as risadas, são enterradas à 7 palmos e, são subsituidas pela saudade. É a lembrança de um último suspiro e um último adeus.
Falar da morte é incomôdo, e requer muita habilidade de quem narra. Porém o Expressão Ativa conseguiu remoer milhares de corações periféricos com essa música. Já vi pessoas que ouviam na Dor de Uma Lágrima e choravam ao mesmo tempo, lembrando de um amigo ou familiar que havia partido. Isso é o rap tendo o poder de emocionar as pessoas!

QI Alforria feat Bá Kimbuta – Sexta-feira

Quantas dores cabem numa sexta-feira? Quantos conflitos não achamos que vamos resolver com alcool, farinha, maconha, sexo ou outras distrações? O fato é que quando a depressão tá pegando não existem saidas fáceis e, no fim, é só ressaca física e moral. Nesse som, os manos do QI falam dos conflitos depressivos dos trabalhadores que buscam amenizar a neurose numa sexta qualquer. Acho foda pra caralho.

Texto e seleção por Pedro Luis e Junior Rocha.

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