O Sonho Irreal

    1
    1156

    O sol nasce, eis que surge mais um dia!

    O clarão do sol ilumina a sua casa, construída com paredes de barro batido e coberta com folhas de sapé, próximo de um lindo riacho. Ele levanta, vai até a cozinha pegar uma fruta, e lá está sua mãe, linda, belíssima, preparando um delicioso café. O cheiro é dos melhores, aliás, ninguém cozinha tal como sua mãe.

    Obataiye! É uma criança feliz, alegre e inteligente. Ao sair no portão depara-se com seus amigos, todos contentes brincando de estrela-nova-cela. Logo é convidado para entrar na brincadeira. Um amigo grita: “o leão fugiu da jaula”, e todos começam a correr desesperadamente, Bata, como é chamado pelos amigos-irmão, cai no chão de terra. Tudo fica escuro!

    Obataiye abre os olhos! Tudo não passava de um sonho.

    Eis a realidade. Aquela casa linda, construída com paredes de barro batido e coberta com sapé, nos moldes das construções africanas, era, na verdade, o seu barraco construído com madeira. Ao lado, ao invés de um lindo riacho, tinha-se um esgoto a céu aberto. Bata, sabe que aquele será um dia comum.

    Levanta! Vai até a cozinha (o sonho poderia ser realidade, em parte). Mas não encontra a sua mãe, tampouco a fruteira recheada das mais variadas espécies de frutas. Na geladeira, somente água e um pedaço de marmelada.

    Com o estômago a roncar, Bata se arruma e vai para escola. Lá, vê a criançada brincando, mas nenhuma delas são seus amigos, ele fica de longe observando, sente vergonha de si, pois está com a mesma roupa da última semana. Na sala, quieto, pensa nos afazeres depois da escola. Ninguém liga para Obataiye, é só mais um menino que não quer saber de nada. Enganam-se!

    Depois da aula, Bata enfrentará um sol de 36° C, a tarde paulistana não é fácil. No farol, Obataiye, entre idas e vindas, com sua mãozinha pequenina, tenta vender as suas balas, afinal, é isso que garantirá o seu jantar.

    E assim passam-se os dias, semanas, meses e anos.

    A vida de Obataiye não faz muito sentido para ele.

    Eis que um dia, já mais velho, depare-se com uma mulher belíssima, da pele preta, olhos negros e com um sorriso cativante. Bata não entende a situação, não sabe ao certo o que dizer, mas a moça de alguma forma enxerga o sofrimento dele, e com uma voz apaixonante diz:

    “Obataiye, um corpo negro

    Um sorriso negro.

    Não desista, persista.

    A vida no Aye (terra) é feita de conquista,

    Por isso persista, não desista.

    É motivo de orgulho no Orum (céu).

    Lute! Contra tudo, pois seu nome é

    Obataiye, Rei do Mundo.

     

     

    (Obs.: “Obataiye é um nome derivado do Iorubá, e significa “Rei do Mundo”. Originária da Nigéria, África Ocidental)

    1 COMMENT

    1. Parabéns! Vossa Excelência trouxe uma ótima reflexão não só das origens Africanas, mas uma realidade no nosso País afora. Só agradece!

    LEAVE A REPLY

    Please enter your comment!
    Please enter your name here